Espero contribuir, com esse BLOG, para a construção do conhecimento farmacêutico.
Vamos interagir, criticar, construir um conhecimento novo, utilizando-se de um novo instrumento.

Saudações farmacêuticas a todos.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Formação Humanista do Farmacêutico

É possível estabelecer um diálogo com nós mesmos? É viável sermos nossos próprios interlocutores? Pois ao ler o que temos escrito, ainda que seja incipiente e de pouca abrangência, somos impelidos a querer responder às próprias indagações teóricas sobre os assuntos que nos inquietam. A profissão de farmacêutico, ainda que secular, como toda atividade profissional contemporânea, está em processo de mudança e de renovação.

Muito embora tal situação de renovação e de mudança não esteja restrita ao nosso país, aqui exibe contornos próprios e delicados. As falsificações de medicamento, a condição de saúde e de doença de nossa população, aliadas a sua condição social e econômica, são variáveis que nos exigem a capacidade de conciliar os valores simbólico, econômico e social, vinculados ao medicamento, com os interesses próprios e prioritários da coletividade, remetendo-nos a uma análise particular: a formação profissional.
Ao tratarmos da formação profissional do farmacêutico, devemos considerar a formação acadêmica como um item de peso a ser observado em nossa profissão. Via de regra, está centrada em duas vertentes importantes que deveriam ter a mesma força, mas não têm: a formação tecnológica - necessária para o preparo do medicamento - e a de caráter social - necessária para o atendimento à saúde da coletividade.

O profissional farmacêutico, exigido hoje pela sociedade, necessita tanto da visão tecnicista quanto da visão humanista, a fim de que seja capaz de apresentar alternativas e soluções para a sociedade em que atua. Torna-se imperioso, portanto, conciliar esses dois aspectos para se alcançar uma ação equilibrada.
Pode-se afirmar que o desequilíbrio que se verifica entra a visão técnica e a visão humana na formação do profissional farmacêutico é determinado por razões históricas. O aspecto técnico da produção de medicamento sempre foi mais significativo, sedimentando o perfil do farmacêutico como o de alguém que produz medicamento. Isso o tem conduzido a perder a dimensão da subjetividade do usuário, bem como a não perceber a influência econômica das indústrias farmacêuticas na disputa por mercado consumidor.
Assim, o farmacêutico tem tido uma postura bastante distante da saúde coletiva, causada não só por sua formação acadêmica, mas sobretudo pelas condições de trabalho nas farmácias. De propriedade de leigos, tais estabelecimentos visam exclusivamente ao lucro, influenciados que são pelas indústrias farmacêuticas multinacionais, que não têm seus interesses coincidentes com o da população brasileira.

Mas estamos otimistas. O movimento farmacêutico, nas duas últimas décadas, tem procurado reagir a essa situação de isenção quanto aos elementos axiológicos do medicamento. Tais questões são de fundamental importância neste estudo, tendo em vista a dinâmica do processo social, e ficaremos felizes se conseguirmos respondê-las antes que sejam suplantadas por outras.
Como já atestamos, o farmacêutico é o profissional do medicamento. Sua presença é exigida em todas as fases da atenção à saúde em que o medicamento está envolvido. Em tese, o farmacêutico tem competência para a pesquisa de novos fármacos, para a distribuição logística, para formulação de políticas de medicamentos, para o atendimento das necessidades de uma comunidade, seja dispensando o medicamento, seja atuando como educador em saúde promovendo o uso racional de medicamentos. Porém, - ainda que esses conceitos estejam bem assentados na teoria, ainda que essa proposta tenha o aval da Organização Mundial da Saúde- OMS, ainda que haja uma intensa discussão em nível nacional sobre esses componentes estruturais da prática profissional do farmacêutico - a realidade no cotidiano está por ser construída.
Em que pese todo o processo de redefinição de papéis da profissão nas novas relações econômicas, o farmacêutico vem sendo chamado pelas autoridades internacionais da área de saúde para uma mudança substancial. Precisamos dar essa resposta.