Espero contribuir, com esse BLOG, para a construção do conhecimento farmacêutico.
Vamos interagir, criticar, construir um conhecimento novo, utilizando-se de um novo instrumento.

Saudações farmacêuticas a todos.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Texto publicado no Jornal da Orla sobre os protestos contra a Homeopatia


Algumas pessoas pelo mundo e pelo Brasil tem feito uma forma de protesto ingerindo “altas doses” de medicamento homeopático, querendo provar que essa terapêutica não funciona. Dizem ser “água com açúcar”. O interessante é que ato semelhante foi feito à época de Pasteur, cientista inquestionável que propôs a existência dos microorganismos. Um desafeto contemporâneo, achando bobagem a teoria de Pasteur, bebeu uma garrafa contendo bactérias. Não houve problemas, mas ninguém, em sã consciência, nega a existência dos micróbios. Prevaleceu a ideia de Pasteur que legou à humanidade um conhecimento que fez evoluir a qualidade de vida.
A ciência moderna, ao longo de sua constituição histórico-filosófica, construiu um paradigma, ou seja, um conjunto de ideias básicas a partir das quais todos os conhecimentos produzidos devem se apoiar. Uma dessas ideias é a de que as funções do corpo biológico dependem exclusivamente das bases materiais. O organismo funciona bem ou mal, se os seus componentes químicos e biológicos estão corretos. Essa condição bastaria para definir a saúde ou a doença. Qualquer pensamento diferente desse paradigma não poderá ser aceito como científico. E é o que acontece com a homeopatia.
O medicamento homeopático é prescrito e produzido baseado em outra maneira de pensar, denominada vitalista. O corpo físico é influenciado e influencia a individualidade de cada um composta pela razão e pelos sentimentos próprios. Isso quer dizer que o doente é mais importante do que a doença. Essa forma de pensamento da homeopatia é profundamente diferente da ciência moderna dominante. Com a diferença na base do raciocínio, a homeopatia ainda não conseguiu comprovação científica dentro da forma de pensar da ciência moderna, passando a ser erroneamente considerada como charlatanismo.
Mas o medicamento homeopático funciona. Está presente na vida das pessoas há mais de 200 anos e tem uma estrutura racional que a apóia, mas diferente daquela aceita pela maioria dos cientistas e das pessoas que financiam as pesquisas. O custo da pesquisa é muito grande e as indústrias farmacêuticas não irão investir em homeopatia porque não conseguirão recuperar o dinheiro investido. O saber acumulado pelo tempo tem dado a homeopatia muito sucesso.
Os dias de hoje são consagrados à convivência pacífica e harmoniosa das diferenças. Não se pode exigir que todos pensem de forma igual. Nós não somos iguais. O respeito mútuo irá permitir que as nossas vidas só se torne melhor.
Procure por um médico ou farmacêutico homeopático para conversar a respeito. Se ainda tiver dúvidas, encaminhe a sua dúvida para o Centro de Informações sobre medicamentos (CIM) da Unisantos. O contato pode ser pelo e-mail cim@unisantos.br ou por carta endereçada ao CIM, avenida Conselheiro Nébias, 300, 11015-002, Santos-SP.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O papel do professor no movimento farmacêutico


É possível estabelecer um diálogo conosco? É viável sermos nossos próprios interlocutores? Pois ao ler o que temos escrito, ainda que seja incipiente e de pouca abrangência, somos impelidos a querer responder às próprias indagações teóricas sobre os assuntos que nos inquietam. A profissão de farmacêutico, ainda que secular, como toda atividade profissional contemporânea, está em processo de mudança e de renovação. 
Muito embora tal situação de renovação e de mudança não esteja restrita ao nosso país, aqui exibe contornos próprios e delicados. As falsificações de medicamento, a condição de saúde e de doença de nossa população, aliadas a sua condição social e econômica, são variáveis que nos exigem a capacidade de conciliar os valores simbólico, econômico e terapêutico, vinculados ao medicamento, com os interesses próprios e prioritários da coletividade, remetendo-nos a uma análise particular: a formação profissional.
Ao tratarmos da formação profissional do farmacêutico, devemos considerar a formação acadêmica como um item de peso a ser observado em nossa profissão. Via de regra, está centrada em duas vertentes importantes que deveriam ter a mesma força, mas não têm: a formação tecnológica - necessária para o preparo e orientação para o uso do medicamento - e a de caráter social - necessária para o atendimento à saúde da coletividade. O profissional farmacêutico, exigido hoje pela sociedade, necessita tanto da visão tecnicista quanto da visão humanista, a fim de que seja capaz de apresentar alternativas e soluções para a sociedade em que atua. Torna-se imperioso, portanto, conciliar esses dois aspectos para se alcançar uma ação equilibrada.
Pode-se afirmar que o desequilíbrio que se verifica entra a visão técnica e a visão humana na formação do profissional farmacêutico é determinado por razões históricas. O aspecto técnico da produção de medicamento sempre foi mais significativo, sedimentando o perfil técnico do farmacêutico. Isso tem conduzido a profissão em perder a dimensão da subjetividade do usuário, bem como a não perceber a influência econômica das indústrias farmacêuticas na disputa por mercado consumidor.
Assim, o farmacêutico tem tido uma postura bastante distante da saúde coletiva, causada não só por sua formação acadêmica, mas sobretudo pelas condições de trabalho nas farmácias. De propriedade de leigos, tais estabelecimentos visam exclusivamente ao lucro, influenciados que são pelas indústrias farmacêuticas multinacionais, que não têm seus interesses coincidentes com o da população brasileira.
Vale ressaltar que o último currículo mínimo, datado do período ditatorial, buscou formar um profissional sem a condição de crítica para a situação dos medicamentos no Brasil. Essa formação, conveniente para a época, pretendia atender aos interesses do capital estrangeiro. Na ocasião, vivíamos um movimento de intensa desnacionalização da indústria farmacêutica, de dependência tecnológica para a busca de novos fármacos, de uso de princípios ativos desaconselhados, ou mesmo proibidos, em outros países. Diante desse quadro, necessitava-se, evidentemente, de um profissional farmacêutico que estivesse, no mínimo, ausente dessas discussões. Ocorre que essa proposta de formação trouxe conseqüências que perduram até os dias atuais e, em parte, o que se vive hoje não é tão diferente do que se viveu naquele período.
Mas estamos otimistas. O movimento farmacêutico, nas duas últimas décadas, tem procurado reagir a essa situação de isenção quanto aos elementos axiológicos do medicamento. A presença do farmacêutico é exigida em todas as fases da atenção à saúde em que o medicamento esteja envolvido. Em tese, o farmacêutico tem competência para a pesquisa de novos fármacos, para sua distribuição logística, para formulação de políticas de medicamentos, para o atendimento das necessidades de uma comunidade, seja dispensando o medicamento, seja atuando como educador em saúde promovendo o uso racional de medicamentos. Porém, - ainda que esses conceitos estejam bem assentados na teoria, ainda que essa proposta tenha o aval da Organização Mundial da Saúde- OMS, ainda que haja uma intensa discussão em nível nacional sobre esses componentes estruturais da prática profissional do farmacêutico - a realidade no cotidiano está por ser construída.
Em que pese todo o processo de redefinição de papéis da profissão nas novas relações econômicas, o farmacêutico vem sendo chamado pelas autoridades internacionais da área de saúde para uma mudança substancial.
Como professor, sempre foi interesse que os nossos alunos adquirissem os valores que defendemos como fundamentais na constituição de seu perfil profissional. Cremos que o farmacêutico carece encontrar um novo espaço social de participação. É importante que ele se veja como membro de uma equipe interdisciplinar de ação na saúde e que sua atuação, ainda que em uma farmácia privada - de sua propriedade ou não -, possa ser incorporada ao sistema público de saúde.
Acreditamos haver um círculo vicioso, em que professores tecnicistas geram alunos tecnicistas. Por isso é importante que nós, professores, conheçamos os determinantes pedagógicos de sala de aula que possam contribuir para a mudança do entendimento que os nossos alunos têm de seu papel na comunidade.
Acreditamos que, por formação, os professores prezam a busca de informações atualizadas e científicas. Todavia essas informações são repassadas aos alunos pelo método tradicional, no qual a visão conteudista predomina, conduzindo a ação em sala de aula para a transmissão pura e simples, pois, para a maioria dos professores, o processo educativo ainda constitui-se em fazer os alunos apreenderem um determinado volume de conteúdos. Há de se explorar novas propostas de formação!